Maconha e Infertilidade: Entenda a Relação

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Nos últimos anos, a popularização do uso da maconha, seja no contexto medicinal ou no recreativo, tem sido tema de muitos debates. Com o aumento das pesquisas relacionadas ao efeito da substância na saúde, surgem também questionamentos importantes a respeito de como ela afeta diferentes funções do organismo.

Seja para quem está planejando engravidar, passando por tratamentos de reprodução assistida ou mesmo um curioso que quer entender melhor como os hábitos e o estilo de vida interferem na saúde reprodutiva, é importante entender o que a ciência já sabe sobre a relação entre maconha e infertilidade.

Muito embora a substância seja de uso recreativo proibido no Brasil, sabe-se que o número de usuários só aumenta —inclusive entre as mulheres, tornando-se fundamental falar sobre o assunto. 

Afinal: será que o uso da maconha realmente prejudica a fertilidade? O problema afeta tanto os homens quanto as mulheres? Existe diferença entre uso eventual, crônico e medicinal? Leia o artigo para entender mais sobre o assunto.

Como a fertilidade funciona

Antes de entender como a fertilidade pode ser afetada pelo consumo de uma substância, é importante saber como funcionam os sistemas reprodutivos, tanto para as mulheres como para os homens.

Fertilidade feminina

A boa fertilidade feminina depende principalmente de um ciclo menstrual saudável e da qualidade dos óvulos. Esse processo é regulado por hormônios como:

  • hormônio folículo-estimulante (FSH), que estimula o crescimento dos folículos ovarianos;
  • hormônio luteinizante (LH), responsável pela ovulação;
  • estrogênio e progesterona, que regulam o ciclo menstrual e preparam o útero para receber uma possível gestação.

Além dos hormônios, questões como a reserva ovariana (que está relacionada à quantidade e à qualidade dos óvulos), o funcionamento das trompas e a receptividade do útero também são importantes para que a gravidez aconteça e evolua de forma saudável.

Fertilidade masculina

No homem, por sua vez, a fertilidade está diretamente relacionada à qualidade do sêmen, que envolve três pilares:

  • concentração de espermatozoides;
  • capacidade dos espermatozoides de se movimentarem até o óvulo;
  • estrutura e formato dos espermatozoides.

A capacidade reprodutiva masculina também está relacionada a hormônios como a testosterona (fundamental para a produção dos espermatozoides), e o LH e o FSH, que regulam a função dos testículos. 

Tanto nos homens quanto nas mulheres, é essencial deixar claro que a saúde reprodutiva não funciona de forma isolada ao estado de saúde do organismo como um todo. Para ambos os sexos, a fertilidade é impactada por fatores como:

  • idade;
  • estilo de vida;
  • estresse;
  • doenças;
  • exposição a substâncias tóxicas.

Por isso é tão importante entender como determinadas substâncias, como a maconha, podem interferir nesse sistema. 

O que é a maconha e como a substância atua no organismo?

Também conhecida como Cannabis, a maconha é uma planta que possui centenas de compostos químicos chamados de canabinóides, os verdadeiros responsáveis pelos efeitos causados no organismo.

Os dois principais canabinóides são o THC (tetra-hidocaninol), composto psicoativo responsável pela alteração da percepção e pela sensação de euforia, além de outros efeitos no cérebro, e o CBD (canabidiol), que não causa efeitos psicoativos e está sendo estudado por suas propriedades terapêuticas como ação ansiolítica, analgésica e anti-inflamatória.

O nosso organismo interage com essas substâncias por meio do sistema endocanabinoide, composto por receptores, enzimas e canabinóides produzidos pelo próprio corpo.

Esse sistema está envolvido na regulação de diversas funções, incluindo, por exemplo, o sono, o humor, o apetite e a função reprodutiva, tanto em homens quanto em mulheres.

Ao se conectar com os receptores, o THC pode influenciar na liberação de hormônios, incluindo os sexuais, e em processos celulares relacionados à formação de espermatozoides e à ovulação. 

Maconha e infertilidade: entenda os efeitos em homens e mulheres

O uso de maconha de forma frequente e prolongada pode afetar a fertilidade, tanto masculina quanto feminina. Entenda:

Impactos na fertilidade masculina

Diversos estudos científicos já investigaram os efeitos da maconha no sistema reprodutivo masculino. 

Um estudo publicado no American Journal of Epidemology em 2015 testou mais de 1200 homens na Dinamarca e concluiu que aqueles que relataram uso frequente de maconha apresentaram redução de até 29% na contagem total de espermatozoides, em comparação aos não usuários.

Os efeitos vão além da contagem: uma análise publicada em 2020 indica que o THC prejudica também a mobilidade dos espermatozoides, além de afetar sua morfologia, tornando-os menos capazes de atingir e fertilizar o óvulo. 

Além disso, o THC pode estar relacionado à infertilidade masculina na medida em que afeta a regulação hormonal, reduzindo níveis de hormônios como a testosterona, o LH e o FSH, que são essenciais na produção dos espermatozoides. O efeito é apontado em um estudo publicado em 2014.

Impactos na fertilidade feminina

Quando o assunto é a fertilidade feminina, um estudo publicado em 2020 aponta que o THC pode interferir na liberação dos hormônios FSH e LH, que são essenciais no desenvolvimento dos folículos e da ovulação, causando efeitos também no ciclo menstrual como a ovulação irregular.

Há, ainda, estudos mais antigos que citam uma possível dificuldade de implantação do embrião no útero relacionada aos efeitos do THC nos receptores do endométrio, mas é importante dizer que eles não foram considerados conclusivos. 

Aliás, é importante frisar que apesar de vários estudos apontarem os efeitos negativos do uso da maconha na fertilidade, essas pesquisas foram realizadas, em sua maioria, com modelos animais ou in vitro.

As evidências em humanas ainda são poucas e, apesar de indicar uma correlação entre maconha e infertilidade, não é possível afirmar que essa é uma causalidade direta. 

Contudo, as principais sociedades médicas e reprodutivas recomendam que pessoas que estão tentando engravidar, tanto homens quanto mulheres, evitem o uso da maconha e de quaisquer outras substâncias tóxicas e hábitos de vida pouco saudáveis. O estilo de vida não está apenas relacionado à concepção, mas também a uma gestação saudável de maneira geral. 

Está tentando engravidar ou começando a pensar no assunto? Então aproveite para ler também o nosso artigo sobre as causas mais comuns de infertilidade.

Dra. Larissa

Por Dra. Larissa Matsumoto

Formada pela Faculdade de Medicina da UNICAMP, realizou Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia pelo Centro de Atenção Integral à Mulher (CAISM) da UNICAMP. Possui título de especialista em Ginecologia e Obstetrícia pela TEGO, concedido pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Atualmente, é pós-graduanda pela Faculdade de Medicina da UNICAMP e médica na Clínica VidaBemVinda.

19 de jun de 2025
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