Dezembro é, mundialmente, o mês de prevenção à AIDS (ou SIDA em português – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), doença causada pelo HIV (human immunodeficiency virus) e que no Brasil atinge mais de 600 mil pessoas, sendo que a maioria se encontra em idade reprodutiva. Estima-se que cerca de 85% dos acometidos possuem entre 14 a 44 anos.
Graças ao tratamento com a terapia anti-retroviral, atualmente é possível o casal sorodiscordante planejar a gravidez, por meio de técnicas de reprodução assistida e suporte gestacional, oferecendo riscos mínimos de transmissão tanto ao parceiro, quanto ao bebê.
O risco de transmissão em uma relação desprotegida com parceiro infectado pelo HIV é cerca de 1/500, por relação.
Quando a mulher é portadora do HIV e o parceiro não é acometido, o tratamento mais comum é a inseminação intrauterina, desde de que as tubas uterinas sejam normais e a qualidade do sêmen seja boa. Uma outra opção interessante e com taxas de gravidez mais elevadas é a Fertilização in vitro (FIV). Assim que ocorre a gravidez, a mãe deve usar a terapia anti-retroviral, planejar o parto de acordo com a carga viral, e não amamentar. Essas medidas garantem um risco de menos de 2% de transmissão para a criança.
Quando apenas o homem é portador do HIV, existem técnicas de preparo do sêmen como a centrifugação com gradiente de densidade, a dupla lavagem do sêmen e a realização do PCR, um exame que identifica a presença do vírus no sêmen. Após o preparo do sêmen, em menos de 1% dos casos será detectado o vírus pelo PCR, o que impossibilita o tratamento. Contudo, na grande maioria das vezes o tratamento é viável e seguro, permitindo tanto a inseminação intrauterina quanto a fertilização in vitro (FIV).
Quando indicada a Fertilização in vitro, o sêmen recebe o mesmo preparo, e não há relato de transmissão para o parceiro sorodiscordante, ou para a criança. O risco é teórico e deve ser discutido com o casal.
Para os casais em que há sorodiscordância, a importância em procurar o tratamento mais adequado para engravidar se deve ao fato de que o coito programado, ou seja, relações desprotegidas no período ovulatório, levou à transmissão do HIV para cerca de 5% dos parceiros não contaminados até então.
Quando ambos possuem HIV, a proposta terapêutica é a mesma. Isso porque o HIV, por ser um vírus mutante, leva a vários estágios diferentes da doença em cada indivíduo, e vários tipos de resistência aos medicamentos anti-retrovirais.
Sabemos que pacientes com melhores níveis de linfócitos CD4+ tem taxas de gravidez maiores, assim como menores taxas de abortamento. E que mulheres com HIV têm maior predisposição à infertilidade relacionada a alterações nas tubas uterinas, estimando-se que até 75% das pacientes HIV positivas possuem doença tubária.
Sendo assim, é de extrema importância que se realize o acompanhamento do casal em conjunto com o infectologista e um especialista em reprodução humana para os casais HIV positivos que pensam em uma gravidez segura.
1) Efficacy and safety of intrauterine insemination and assisted reproductive technology in populations serodiscordant for human immudeficiency vírus: a sistematic review nad meta-analysis- Barnes A, Pharm DR, Mena L, Sison T et al. , Fertility and Sterility, agosto 2014
3) Human Immunodeficiency virus and infertility treatment, The Ethics Committee of the ASRM