A espera pela estabilidade financeira e o foco na carreira profissional são motivos que têm feito muitas mulheres a querer engravidar na faixa dos 40 anos.
O avanço da tecnologia médica mostra que, diferentemente do que era há 30 anos, há mais possibilidades e tratamentos para uma gravidez tardia saudável. Dentre essas opções, a fertilização in vitro (FIV) segue como a mais indicada neste cenário, seja com óvulos próprios ou doados.
O relógio biológico produz um efeito implacável no aparelho reprodutor feminino. Há uma perda considerável de fertilidade já aos 32 anos e que se acentua aos 37 e 40. A quantidade de óvulos já não é a mesma devido ao consumo contínuo de folículos (que contêm os óvulos) ao longo do menacme, período que vai da primeira menstruação até a menopausa.
Outra característica é a perda de qualidade dos óvulos, tornando-se mais propensos a abortamentos, malformações fetais e anomalias cromossômicas (aneuploidias), o que aumentam as chances de um bebê com Síndrome de Down, Edwards, Patau, entre outras. Os tratamentos são indicados para casos constatados de infertilidade ou quando a idade materna está avançada, já que poucos meses podem mudar muito a taxa de gravidez do casal, mesmo com a FIV.
Eficiência
Embora seja o método mais eficaz, a FIV é também o mais caro. Assim, antes de indicar o tratamento mais adequado, o especialista em reprodução humana deve levar em consideração a relação custo-efetividade de cada opção. Para isso, fatores como idade materna, tempo de infertilidade, condições das tubas, qualidade seminal, tentativas prévias e outros são extremamente importantes.
Uma opção é a inseminação intrauterina, que consiste em estimular a ovulação através de medicamentos (por via oral ou subcutânea) e injetar o sêmen previamente colhido e preparado à cavidade uterina no momento da ovulação.
Esta técnica, cuja fecundação é feita dentro da tuba uterina, possui taxa de gravidez média de 12-15% por tentativa. Vale ressaltar que essa taxa é validada para mulheres mais jovens. Raramente a inseminação intrauterina é indicada a mulheres com mais de 40 anos, pois os estudos mostram que a taxa de gravidez é muito mais baixa do que 12% neste grupo, e o tempo que se gasta para fazer o tratamento pode ser importante para o sucesso da FIV, que é o mais indicado.
A FIV consiste no mesmo processo de estimulação hormonal, mas os óvulos são colhidos em uma clínica, sob anestesia, antes de ocorrer a ovulação. O sêmen também é colhido no mesmo dia, e a fecundação ocorre em laboratório (in vitro). Alguns dias depois, transfere-se o embrião à cavidade uterina.
A FIV tem taxa de gravidez média de 40-45% por ciclo, mas variável segundo a idade da mulher, reserva ovariana, qualidade seminal e outros fatores.
Não existe um limite de idade, mas alguns estudos indicam que a partir dos 45 anos, a chance de gravidez através da FIV com óvulos próprios é menor que 1%. O risco de alteração genética no embrião chega a 100% a partir dos 47 anos.
Um estudo publicado pela Universidade de Cornell em Nova Iorque, nos Estados Unidos, avaliou a taxa de gravidez da FIV em mulheres acima dos 40 anos com seus próprios óvulos. O resultado é que mulheres com 40 anos tiveram 20,8% de sucesso com o tratamento; com 41 anos tiveram 15%; 11,6% das mulheres com 42 anos conseguiram engravidar e apenas 2,8% em relação a mulheres com 43 anos ou mais.
Já a revista médica Fertility and Sterility indica que mulheres de 40 anos que se submetem a tratamentos para engravidar têm 25% de chance de conceber um bebê com seus próprios óvulos. Aos 43, o número cai para 10%, e, aos 44, despenca para apenas 1,6%.
Outro procedimento que pode ser adotado, apesar de também ter alto custo financeiro, é o de congelar os próprios óvulos, mantendo-os jovens e saudáveis a uma gravidez futura. Nestes casos, a fecundação ocorre via FIV.
Por fim, se não conseguir mais engravidar com os próprios óvulos, a mulher pode recorrer à ovodoação, utilizando óvulos doados anonimamente à FIV.
Por exigências do Conselho Federal de Medicina (CFM), os óvulos não podem ser comercializados, e o anonimato do doador deve ser preservado. A legislação brasileira atual também não permite a doação entre familiares. Em geral, as taxas de gravidez em ciclos de ovodoação possuem mais de 50% de sucesso.
Portanto, há uma gama de tratamentos e alternativas à gravidez aos 40 anos para que a mulher decida com sua família e médico qual o mais indicado para seu caso. Essa gravidez de risco pode ser tão ou até mais saudável do que uma gestação de uma mulher mais nova, desde que haja cuidados básicos essenciais, como evitar estresse, manter uma alimentação equilibrada, praticar esportes físicos moderadamente, evitar tabagismo, álcool e drogas.
Um tratamento com ácido fólico por pelo menos dois meses antes da concepção é bastante indicado nestes casos para evitar as malformções de tubo neural (anencefalia, espinha bífida). Nesta faixa de idade, a mulher deve se atentar ao peso, pois um Índice de Massa Corpórea (IMC) elevado pode resultar em diabetes gestacional e doença hipertensiva específica da gestação, que podem trazer riscos ao feto e mãe.