Receptividade Endometrial: O Que Isso Significa?
Receptividade endometrial – entenda sua relevância para a concepção, métodos de avaliação para melhorar essa condição, aumentando as chances...
A endometriose, doença que afeta aproximadamente 30-40% da população infértil, causa grande preocupação quando diagnosticada antes de um tratamento de fertilização in vitro. Isso porque sabemos que teremos um resultado com menor quantidade de oócitos coletados, menor quantidade de óvulos maduros e menores taxas de implantação embrionária.
Embora estes resultados estigmatizem o tratamento da paciente com endometriose que será submetida à FIV, o mecanismo associado ao pior desfecho não está clara ainda nos dias atuais.
Surgem várias hipóteses: uma delas seria a possibilidade de alteração no fuso meiótico, ou seja, no momento de divisão do DNA na célula, e poderia resultar na formação de embriões geneticamente alterados.
Diante desta dúvida, um grupo de estudiosos liderados por Richard Scott comparou resultados de embriões de pacientes com endometriose e pacientes sem endometriose submetidas a FIV, entre os anos de 2009 e 2015, e este artigo foi publicado na revista Fertility and Sterility de agosto de 2017.
Foram analisados 1.880 blastocistos de 305 pacientes com endometriose, e 23.054, de 3.798 pacientes sem endometriose, com uma média de idade de 36,1 e 36,3 anos, respectivamente.
As pacientes com endometriose tinham diagnóstico por imagem ou por laparoscopia, nem todas as pacientes haviam sido operadas, e tinham dosagem de hormônio anti-mülleriano (teste que mede a reserva de óvulos) mais baixa que a população sem endometriose, com uma média de 1,3 ng/mL.
As taxas de embriões alterados estão no gráfico abaixo:
Este estudo também foi importante pois demonstrou mais uma vez, que a idade, é o principal fator para alterações genéticas dos embriões:
Endometriose | Controle- sem endometriose | |||
idade | número total de embriões | % alterado | número total de embriões | % alterado |
<35 anos | 690 | 25,9% | 10117 | 25,2% |
35-37 | 536 | 34% | 5674 | 35,2% |
38-40 | 299 | 52,2% | 3214 | 48,6% |
41-42 | 282 | 62,4% | 2629 | 62,1% |
>42 | 73 | 84,9% | 1420 | 82,3% |
Como todo estudo, este também tem suas limitações, e vale ressaltar que nem todas as pacientes do estudo realizaram cirurgia, podendo se tratar de casos de endometriose mais leve, também porque a dosagem do hormônio anti-mülleriano, e o padrão de resposta ao estímulo se enquadram em pacientes com endometriose, porém com resposta normal.
O estudo sugere que o pior desfecho em um tratamento de FIV seja multifatorial, porém aparentemente não possuem maior risco de alterações genéticas embrionárias.
Esta é uma notícia boa para as pacientes com diagnóstico recente de endometriose, com reserva ovariana normal que temem o desfecho do tratamento! Vamos em frente!!!
Bibliografia
Formada pela Faculdade de Medicina da UNICAMP, realizou Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia pelo Centro de Atenção Integral à Mulher (CAISM) da UNICAMP. Possui título de especialista em Ginecologia e Obstetrícia pela TEGO, concedido pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Atualmente, é pós-graduanda pela Faculdade de Medicina da UNICAMP e médica na Clínica VidaBemVinda.
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