É fato que a endometriose prejudica a fertilidade, mesmo em estágio inicial, a doença reduz a taxa de concepção natural.
No Brasil, há cerca de 6 a 7 milhões de mulheres com endometriose, e grande parte só tem o diagnóstico quando encontra dificuldade para engravidar.
A endometriose é uma doença na qual o endométrio, mucosa que reveste internamente a cavidade uterina, se faz presente em outras regiões, principalmente ovários, tubas uterinas, ligamentos uterinos, intestino, bexiga, vagina e peritônio (camada que reveste os órgãos abdominais).
Estima-se que ela esteja presente em 30% a 50% das mulheres inférteis, e pode comprometer as chances de gravidez mesmo com técnicas de reprodução assistida, como inseminação intrauterina e fertilização in vitro. Trata-se, portanto, de um desafio não só para a mulher, mas também para o casal.
A endometriose estabelece um ambiente pélvico inflamatório que compromete a fecundação: acredita-se que tanto lesões visíveis como ocultas produzem toxinas que prejudicam a concepção.
Como os focos de endometriose podem levar anos para se tornarem visíveis aos exames (ultrassonografia transvaginal e ressonância magnética), algumas mulheres acabam por desenvolver a infertilidade sem causa aparente (ISCA ou infertilidade inexplicada) e, só depois, identificam do que se trata realmente.
Estima-se que pelo menos 30% dos casos de infertilidade sem causa aparente sejam casos de endometriose após uma investigação adequada.
A endometriose é progressiva; provavelmente, para cada lesão pigmentada identificada na laparoscopia, há dezenas de outras que ainda não se tornaram visíveis.
Essa progressão causa aderências pélvicas e obstrução tubária. As lesões são responsáveis por causas aderências das tubas uterinas (trompas) e ovários às estruturas pélvicas adjacentes, comprometendo a captura e transporte do óvulo, dificultando a fecundação.
Ainda, a presença de cistos ovarianos repletos de endometriose, conhecidos como endometriomas, pode comprometer a qualidade do óvulo, o que foi avaliado em alguns estudos científicos.
Administrando a infertilidade
A escolha do tratamento para engravidar depende de vários fatores, sendo os principais: idade da paciente, reserva ovariana, tempo de infertilidade, qualidade seminal e estádio da endometriose, incluindo os locais de acometimento.
O tratamento da endometriose deve ser individualizado e tentar criar qualquer tipo de regra para escolher o tratamento pode ser um erro. Se você tem suspeita de endometriose e deseja engravidar, o primeiro passo é buscar um especialista em reprodução humana e endometriose.
A indicação do tratamento mais adequado não é tão simples e precisa ser cuidadosamente discutido em conjunto com a paciente. Um cirurgia que funcionou para uma conhecida não necessariamente será a melhor opção para você. E isso também vale para as técnicas de reprodução assistida.
Por isso, a avaliação de um médico especialista que domine não somente a reprodução humana, mas também saiba tratar a endometriose é a escolha mais segura.
Podemos imaginar diversos cenários, sendo que a Fertilização in vitro (FIV) é geralmente recomendada nos seguintes casos:
- Pacientes com mais de 37 anos ou que apresentam reserva ovariana reduzida, já que, nesse caso, o tempo é um fator fundamental e alguns meses podem fazer uma grande diferença;
- Casos de endometriose ovariana (endometrioma) com baixa reserva ovariana, em que a paciente tem pouco ou nenhum sintoma, pois a cirurgia pode reduzir ainda mais a quantidade de óvulos;
- Alterações seminais moderadas a graves, como baixa concentração e qualidade dos espermatozoides;
- Mulheres que já foram submetidas à cirurgia para endometriose e não engravidaram após 6 a 12 meses.
As mulheres com endometriose tem uma chance de gravidez menor, devido à redução do potencial de fertilização, à qualidade embrionária comprometida, às aderências nas tubas e ovários, à disfunção imunológica de implantação, entre outros.
A cirurgia é uma excelente arma terapêutica para melhorar os sintomas álgicos, bem como devolver a fertilidade em alguns casos de alterações tubáreas, permitindo a gestação espontânea nos meses após o procedimento. Evidentemente, isso depende de diversos fatores, como permeabilidade tubárea, qualidade seminal e idade materna.
Por isso, mulheres com endometriose precisam ser pró-ativas e buscarem soluções assim que são diagnosticadas. Hoje dispomos de diversas estratégias de tratamento, incluindo a combinação de FIV com congelamento de embriões e cirurgia, permitindo um excelente controle da doença e altas taxas de gravidez.