Quem precisa de doação de óvulos (óvulos doados)?
As mulheres possuem cerca de 400 mil óvulos quando menstruam pela primeira vez. Esses óvulos vão sendo perdidos ao longo do tempo, nas ovulações periódicas e por um processo de atresia (que consiste na morte celular antes mesmo de ter ovulado). Diferentemente do homem, que produz novos espermatozoides diariamente, novos óvulos não são produzidos para repor os demais.
A velocidade dessa perda é variável, dependendo de fatores individuais, ambientais e da idade da mulher. Em média, perde-se cerca de 1000 óvulos por mês, de forma que após 400 meses essa população de óvulos se esgota. Isso corresponde a duração aproximada da idade fértil feminina (menacme).
Há nessa história um agravante: a perda em geral se dá dos melhores para os piores óvulos, que ainda sofrem os danos do envelhecimento. Dessa forma, ao final da vida reprodutiva, têm-se disponível para gerar a gravidez poucos óvulos e, em geral, de baixa qualidade. Chamamos esse estoque de óvulos remanescente de reserva ovariana.
Quando esse estoque se esgota por completo e a mulher não menstrua há pelo menos um ano, chamamos de menopausa. Isso ocorre por volta dos 50 anos, em média. Se ocorrer antes dos 40 anos, consideramos menopausa precoce.
O adiamento da maternidade por questões pessoais ou profissionais, ou mesmo fatalidades, como tratamentos para câncer ou fatores genéticos, faz com que muitas mulheres tentem ter filhos quando já estão num quadro de baixa reserva ovariana. É uma situação crítica cuja solução até alguns anos atrás passava muitas vezes por desistir da gravidez e partir para adoção, ou simplesmente, abdicar do sonho de ser mãe.
Hoje, todas essas situações listadas (menopausa, menopausa precoce, baixa reserva ovariana) podem se beneficiar da ovodoação.
O que é a ovodoação (doação de óvulos)?
Consiste em fazer o tratamento para engravidar utilizando os óvulos de outra pessoa. É uma situação análoga ao já conhecido uso do banco de sêmen por casais cujo homem é estéril.
A ideia é simples: uma mulher jovem e que tenha boa reserva ovariana (doadora) doa seus óvulos para uma mulher que não consegue engravidar com seus próprios óvulos (receptora).
É importante ressaltar que ambas, doadora e receptora, precisam se submeter às técnicas de reprodução assistida, não sendo possível gravidez “em casa” com essa técnica.
Doação de óvulos: o que é permitido no Brasil?
No Brasil, a única modalidade de ovodoação autorizada pelo Conselho Federal de Medicina é a doação compartilhada.
Nesse tratamento, uma mulher que necessariamente precisa se submeter a tratamento de fertilização in vitro doa parte de seus óvulos para a receptora. Ou seja, não é mais permitido que mulheres que não precisem realizar tratamentos de reprodução assistida procurem as clínicas apenas para doar óvulos, mesmo que de maneira altruística.
É permitido que a receptora custeie o tratamento de doadora. O mediador dessa relação é a clínica responsável pelo tratamento de ambas, já que o anonimato na doação de gametas e embriões no Brasil é obrigatório.
Quem pode ser receptora?
Havia uma resolução do Conselho Federal de Medicina que limitava a idade da mulher em 50 anos para fazer tratamento com óvulos doados. Atualmente não há mais essa restrição, podendo se submeter ao tratamento mulheres de qualquer idade que tenham condições de saúde adequadas para a gravidez.
Quem pode ser doadora?
Mulheres com menos de 35 anos com reserva ovariana normal que precisem de tratamento de Fertilização in vitro para engravidar podem doar parte de seus óvulos.
Existem algumas restrições clínicas, como ser portadora de doenças genéticas, doenças psiquiátricas graves, endometriose grave e infecções crônicas como HIV, Hepatites B e C e HTLV. Para saber se pode ser doadora ou não, é preciso passar por uma avaliação médica prévia.
Quais são as etapas da Doação de Óvulos?
- Estimulação dos ovários da mulher que doará óvulos (doadora);
- Captação destes óvulos, através da aspiração dos folículos ovarianos guiado por ultrassom transvaginal (com anestesia);
- Doação de parte dos óvulos para a receptora;
- Fertilização dos óvulos doados com os espermatozoides do casal receptor;
- Transferência dos embriões formados para o útero da mulher receptora.
A primeira pergunta que escutamos é: qual a diferença entre ovodoação e adoção? Apesar de a adoção ser uma opção, existem diferenças importantes que tornam o tratamento com óvulos doados, único. A primeira é que a doadora apresenta características compatíveis com a receptora. A segunda é que há a participação genética do homem e fisiológica da mulher. A mulher que recebe óvulos vive toda gravidez, parto, é capaz de amamentar e sedimenta, intensamente, a ligação com o seu filho. Neste sentido, o tratamento com óvulos doados é muito positivo e gratificante, tanto para a receptora, quanto para a doadora.
A Doação de óvulos é permitida por Lei?
No Brasil, a última Resolução do Conselho Federal de Medicina publicada em setembro de 2015 permite a Doação Compartilhada e determina pontos importantes:
- A doação de óvulos não pode ter caráter lucrativo ou comercial;
- Deve ser anônima: doadores e receptores não devem se conhecer. Portanto, se alguma amiga ou parente quiser doar para uma conhecida, isso não é permitido;
- A doadora deve ter no máximo 35 anos. E, para a receptora, não há mais limite de idade (resolução de 2013 determinava limite de 50 anos);
- A escolha da doadora é responsabilidade da Clínica de Reprodução Humana.
- A doadora é uma mulher com características únicas. Primeiramente, precisa ter boa quantidade e alta qualidade de óvulos. Isso é determinado através de exames de estimativa de reserva ovariana e idade materna.
Depois, precisa ser avaliada com cuidado (histórico médico, exames de sangue e de imagem) e consentir que a doação de óvulos seja feita.
Infelizmente, no Brasil, ainda há falta de doadoras. Isto ocorre por diversos motivos, mas o principal é a falta de informação. A doação pode ser uma ótima opção em algumas situações. Um exemplo é quando a mulher tem muitos óvulos, mas não quer ter embriões congelados, por motivos religiosos, financeiros ou outros.
Antes de iniciar esse procedimento, todos os casais envolvidos devem passar por grande reflexão sobre as consequências do tratamento. Muitas clínicas que realizam esse procedimento recomendam acompanhamento psicológico a fim de evitar traumas e arrependimentos. Procure se informar e esgote suas dúvidas em consultas com profissionais especializados. Dessa forma, a ovodoação é um excelente recurso à constituição da família.