Em agosto de 2015, a Fertility and Sterility dedicou parte de sua revista para publicações sobre a melatonina.
A melatonina é um neurohormônio, isolada em 1958. É produzida principalmente pela glândula pineal, mas também, pelo trato gastrointestinal, olhos, pulmões, pele, rins, fígado, tireoide, timo, pâncreas e sistema imune, sendo metabolizada nos rins e no fígado.
Há diversos estudos clínicos com uso da melatonina em doenças como glaucoma, diabetes, síndrome do intestino irritável, endometriose, e para prevenir os danos causados pela quimio e radiotrapia. E nestas últimas décadas diversos estudos têm comprovado os benefícios da melatonina nos tratamentos de reprodução assistida.
A glândula pineal secreta a melatonina durante a noite, utilizando a serotonina como precursor. O mecanismo que controla a produção da melatonina é chamado de ciclo circadiano, ou ciclo de sono e vigília. Ela possui um potente efeito antioxidante, agindo contra espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio, provenientes do metabolismo celular. Alterações crônicas no ciclo circadiano são relacionadas a problemas cardiovasculares, obesidade e até câncer.
Os efeitos nos ovários
No ovário, a melatonina é produzida pelas células da granulosa e cumulus oophorus (aquelas células com relação direta com o óvulo) e a concentração intrafolicular aumenta à conforme o folículo cresce. A melatonina regula a produção de progesterona pelas células da teca, e auxilia no rompimento folicular, que ocorre na ovulação.
Além disso, a melatonina:
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Reduz a atresia e apoptose folicular (morte celular), reduzindo os radicais livres provenientes do rompimento folicular.
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Auxilia na manutenção do corpo lúteo, processo fundamental para o início da gravidez.
Alguns estudos relacionam melhor qualidade dos óvulos, melhor taxa de maturação oocitária após coleta na FIV, com maiores níveis de melatonina no líquido intrafolicular. Porém, é importante ressaltar que esse benefício só é mantido em concentrações específicas. Em concentrações menores não haveria o efeito benéfico, e em concentrações maiores observou-se um efeito deletério.
Essa concentração intrafolicular é atingida com a ingestão de 3 mg à noite, dose recomendada durante o tratamento.
Outro estudo interessante constatou que pacientes com a Síndrome de ovários policísticos (SOP), que não ovulam, possuem uma concentração de melatonina bem menor que pacientes sem a síndrome. Isso mostra também, do ponto de vista clínico, o desempenho da melatonina na ovulação.
Há também uma provável relação entre alterações do ciclo circadiano materno e hiperatividade, autismo e déficit de atenção das crianças.
Seria a melatonina a medicação para melhorar a qualidade dos óvulos durante o estímulo ovariano nos tratamentos de Reprodução Assistida?
Embora alguns estudos relatam essas associações, uma meta análise de 2014 e a revisão da Cochrane de 2013 não correlacionam o uso da melatonina com melhores taxas de gravidez. No entanto, a melatonina é uma medicação promissora como terapia adicional na infertilidade. Além de ser um potente antioxidante, é seguro, pois não tem efeito sedativo, e não apresenta toxicidade hepática se usada até uma dose de 20 mg por 12 meses.
É muito importante lembrar que a melatonina é uma medicação adjuvante no tratamento da infertilidade, e o possível benefício do uso deve ser avaliado juntamente com seu médico.
Referências bibliográficas
– Casper RT, Giadanac MSc; Circadian rhythm and its disruption: impact on reproductive function; Fertility and Sterility, vol 102 n 2, august,2014
– Tamura H, Nakamura Y, Korkamaz A, Manchester LC, et al; Melatonin and ovary: phisiologycal and patophiologycal implications; Fertility and Sterility, vol 92, n1 , July, 2009
– Reiter RJ, Tamura H, Tan DX, Xu SY; Melatonin and the circadian System: conributions to successful female reproducition, Fertility and Sterility, vol 102n 2; august, 2014
– Fernando S, Rombauts L; Melatonin: shedding light on infertility? – a review of the recent literature, journal of Ovarian reseach